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domingo, 8 de abril de 2012

RN: Mulher espera mais de 20 horas por cirurgia e morre


Após mais de 20 horas à espera de cirurgia, com diagnóstico de megacolo – privação –, a dona de casa Rita Maria Batista, de 56 anos, que residia no Sítio Pindoba, em Felipe Guerra chegou a óbito, às 9h de ontem, no Hospital Regional Tarcísio Maia. A agonia da senhora trouxe à tona a ineficiência no atendimento no sistema da saúde pública.
Apesar da constatação de que a cirurgia deveria ser realizada imediatamente – dia 4 de abril, às 11h15 – e três cirurgiões estarem de plantão no hospital durante o dia, o procedimento não foi realizado por nenhum dos profissionais. A cirurgia só foi realizada à noite por outro médico.
A promotora de Justiça, Ana Ximenes, conta que na quarta-feira, 4, recebeu um comunicado de urgência de uma pessoa que estava no Hospital Regional Tarcísio Maia informando que havia uma paciente na unidade hospitalar precisando de cirurgias há horas. De acordo com a promotora, havia três cirurgiões no hospital e a indicação de necessidade da cirurgia da paciente era de meados do dia. 
Ana Ximenes informa ainda que, durante sua visita in loco para checar a informação, o que aconteceu após as 18h, ela verificou que o médico cirurgião que assumiu o plantão procedeu da forma correta e iniciou a cirurgia sozinho, para tentar salvar a vida da paciente. 
A promotora comenta que não se trata de um procedimento de praxe. Porém como o médico verificou a gravidade da cirurgia da paciente, ele tomou o posicionamento de operá-la. A paciente sobreviveu por algumas horas, mas faleceu ontem pela manhã. “Ela morreu hoje [ontem], às 9h”, lamenta a promotora. 
Quando esteve no Tarcísio Maia, Ana Ximenes reuniu a documentação necessária e pediu a Polícia Civil para investigar a possível omissão de socorro. O inquérito foi instaurado pelo delegado Caetano Baumman, mas será conduzido pelo profissional da 2ª Delegacia de Polícia Civil, delegado Roberto Moura. O inquérito vai investigar os três cirurgiões que estavam de plantão no dia 4 de abril. “Antes de terminar o inquérito policial eu não posso afirmar, categoricamente, que houve omissão de socorro”, afirma a promotora. 
Na manhã de ontem, a diretoria do hospital concedeu entrevista coletiva à imprensa e o diretor técnico, o médico Diego Dantas, explicou que Rita Maria Batista deu entrada no hospital às 13h44 do dia 3, e foi atendida pelo clínico de plantão com o quadro de dor abdominal. “Foram feitos os exames e tomadas as medidas evacuatórias, mas mesmo após a cirurgia o quadro evoluiu, hoje (ontem) pela manhã as equipes tentaram, mas ela não resistiu”, explicou.
O médico disse ainda que, segundo relatos, a paciente teve um retardo em ser trazida para o Tarcísio Maia. “Ficamos sabendo que ela já sofria com esse problema há 90 dias”, disse Diego Dantas.
O encaminhamento para a cirurgia da paciente foi emitido às 11h15 do dia 4, segundo a direção do hospital, mas a cirurgia só foi realizada à noite, mesmo com três cirurgiões no hospital. “Essa demora no atendimento deve ser melhor apurada, para saber se realmente houve alguma omissão. O diretor geral vai abrir uma sindicância para isso. Eu posso dizer que não consigo ver nenhum erro de conduta médica, o que é preciso investigar é se houve algum retardo”, continuou.
O diretor-geral do Hospital, Ney Robson, lamentou a situação e afirmou que o hospital tem uma postura transparente. “Vamos abrir uma sindicância até segunda-feira. Mediante isso vamos tomar todas as medidas possíveis e legais”, afirmou Ney Robson.
O diretor falou ainda sobre a escala médica do hospital. “No dia em que foi detectada a necessidade da cirurgia, a escala estava composta de três médicos, e é o que deve acontecer sempre, mas não é todo dia que acontece. À noite havia dois e um deles vendo a gravidade tentou salvar a vida da paciente. Infelizmente temos uma rotina que deve ser otimizada”, continuou.
Ney Robson lembrou que o que aconteceu no Tarcísio Maia foi apenas o fim trágico da história. “Essa senhora já tinha toda uma história de falta de assistência médica básica no seu município, ela já chegou aqui com a situação muito agravada. É comum pacientes chegarem aqui assim, com situação semelhante, com falta de atendimento na atenção básica em seus municípios”, concluiu Ney Robson.
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