Em contundente artigo
publicado nesta sexta-feira (15), na Folha de S. Paulo, o professor
livre-docente do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP),
Vladimir Safatle, destaca que, "a partir de segunda-feira, o Brasil
não terá mais governo". O texto, intitulado "O governo Temer não
existirá", reforça que "nada mais previsível que golpe não ser
chamado de golpe em um país no qual ditadura não é chamada de ditadura e
violência não é chamada de violência."
Safatle questiona a
capacidade do vice-presidente Michel Temer conduzir o governo do país:
"Temer agora quer se apresentar como líder de um governo de "salvação
nacional". Ele deveria começar por responder quem irá salvar o povo
brasileiro dos seus "salvadores". Seu partido, uma verdadeira associação
de oligarquias locais corruptas, é o maior responsável pela miséria política da
Nova República, envolvendo-se até o pescoço nos piores casos de corrupção
destes últimos anos, obrigando o país a paralisar todo avanço institucional que
pudesse representar riscos aos seus interesses locais." O autor ainda
enfatiza: "Um impeachment tramado por um vice-presidente que cometeu as
mesmas práticas que levaram ao afastamento da presidenta não é apenas golpe,
mas golpe tosco e primário."
Para Safatle, "os
que querem comandar o país a partir de segunda-feira aproveitam-se do fato de o
país estar em uma divisão sem volta. Eles governarão jogando uma parte da
população contra a outra para que todos esqueçamos que, na verdade, são eles a
própria casta política corrompida contra a qual todos lutamos. Diante da crise
de um governo Dilma moribundo, outras saídas, como eleições gerais, eram
possíveis. Elas poderiam reconstituir um pacto mínimo de encaminhamento de
antagonismos. Mas apelar ao poder instituinte não passa pela cabeça de quem
sempre sonhou em alcançar o poder por usurpação."
O autor conclui o texto
afirmando: "Diante da nova realidade que se anuncia, só resta insistir que
simplesmente não há mais pacto no interior da sociedade brasileira e que nada
nos obriga à submissão a um governo ilegítimo. Nosso caminho é a insubmissão a
este falso governo, até que ele caia. Este governo deve cair e todos os que
realmente se indignam com a corrupção e o desmando devem lutar sem trégua, a
partir de segunda-feira, para que o governo caia e para que o poder volte às
mãos da população brasileira. Àqueles que estranham que um professor de
universidade pública pregue a insubmissão, que fiquem com as palavras de
Condorcet: "A verdadeira educação faz cidadãos indóceis e difíceis de
governar". Chega de farsa."
Fonte: JB
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