Desde o início de 2011, o Amazonas já recebeu quase três mil haitianos. Voluntária alerta para risco de crise humanitária
O discurso de "boas vindas" aos haitianos dado pelo governo brasileiro e pelo governo do Amazonas não passa de retórica. De abrigo à alimentação e locomoção até a intermediação na conquista por uma vaga no mercado de trabalho, somente voluntários têm atuado na inclusão dos haitianos no país desde o início de 2011.
"Já vai fazer quase um ano que começou a entrar uma grande quantidade de haitianos em território brasileiro ,mas esta situação não tem sensibilizado as esferas públicas do país", diz a voluntária Chiron Helene, 29, que alerta para o risco de uma crise humanitária.
Os quase três mil cidadãos do Haiti que já ingressaram no território nacional recebem atendimento exclusivamente de missionários evangélicos, igrejas católicas e instituições da sociedade civil como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
"Quando aconteceu a tragédia no Haiti, em 2009, o então presidente Lula falou que o Brasil estava de portas abertas às pessoas daquele país. A presidenta Dilma fala que o país continua recebendo haitianos, mas é só discurso. Esqueceram de dizer que Brasil não é apenas o Amazonas", conta Chiron Helene.
Filha de mãe brasileira e pai francês, é Chiron que se responsabiliza pela recepção dos haitianos no porto de Manaus e pelo envio destas pessoas a um abrigo. Em algumas vezes, ela própria vai a Tabatinga, a 1.106 de Manaus, na fronteira com a Colômbia e porta de entrada dos haitianos no Brasil, acompanha os imigrantes.
Frustração
À frente da ação está o procurador do trabalhador do trabalho Audaliphal Hildebrando que, como cidadão, tem desenvolvido um trabalho de incorporação no mercado de trabalho dos imigrantes haitianos e estimulado organismos da sociedade a apoiar estes estrangeiros uma atenção diferenciada. Mas, segundo Chiron, assessora pessoal do procurador do trabalho, a iniciativa sem sido frustrante.
"Os cidadãos do Amazonas não têm mais condições de assumir, sozinho, esta atenção. É preciso que as instâncias públicas façam alguma coisa. Que não fiquem só dizendo que os haitianos podem entrar aqui“, diz ela.
Conforme Chiron, a única atuação prática do governo brasileiro foi conceder aproximadamente 600 vistos humanitários a haitianos que já entraram. Todos eles permanecem residindo em Manaus. Destes, cerca de 400 estão no mercado de trabalho com carteira de assinada.
Atualmente, há 800 haitianos em Tabatinga, fronteira do Brasil com a Colômbia, aguardando receber a declaração de solicitante de refúgio concedido pela Polícia Federal.
A declaração é enviada pelo Comitê Nacional para Refugiados (Conare). O documento dá a condição legal aos haitianos no Brasil durante três meses, com direito a prorrogação.
Após três meses de espera pela declaração, os haitianos são alojados em uma embarcação e viajam durante cinco dias pelo rio Solimões.
Descumprimento
A responsabilidade do governo do Amazonas na atenção aos haitianos também ainda não foi identificada, segundo Chiron.
Um Termo de Cooperação assinado no dia 2 de maio de 2011 que visava "a integração de haitianos no Brasil" para "favorecer o acesso aos direitos de cidadania e contribuir na reconstrução de sua vida e no apoio às suas famílias" ficou apenas no papel. De 19 instituições que assinaram o compromisso, apenas seis atuam de fato.
Órgãos e instituições como Secretaria Estadual de Educação (Seduc), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), Sindicato da Indústria da Construção Civil do Amazonas (Sinduscom) e Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado do Amazonas (Sejus) ainda não desenvolveram atividade alguma.
Na esfera estadual, apenas a Secretaria Regional do Trabalho e Emprego no Amazonas tem atuado, na emissão de carteiras do trabalho. "Gostaríamos que o governador Omar Aziz mencionasse essa situação em alguma audiência com a presidente Dilma. É preciso que os governos assumam essa responsabilidade também", diz Chiron.
Viagem
Uma iniciativa que já foi apresentada é o deslocamento de haitianos para outros Estados brasileiros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde há organizações que manifestaram intenção de recebê-los e de ajudá-los na integração na sociedade brasileira.
O transporte poderia ser feito por meio de aviões da Força Aérea Brasileira, mas é preciso que o governo brasileiro autorize. A solicitação já foi enviada para o 7º Comando Aéreo Regional (Comar) e este, segundo Chiron, já foi encaminhado para o Ministério da Defesa.
"Ainda não obtivemos resposta alguma. Acho que se o governo do Amazonas intercedesse junto à presidente Dilma essa autorização poderia ser mais rápida. Não estamos pedindo muita coisa, apenas mais interesse por parte do Estado no apoio a estas pessoas", diz ela.
“Condomínio”
Com capacidade para receber 100 moradores, um prédio de três andares localizado no bairro Parque 10, Zona Centro-Sul, representa o primeiro "conjunto residencial" de haitianos.
A conquista é fruto da mobilização de voluntários, entre eles Stélio e Chiron, junto a cidadãos que atuam espontaneamente.
O prédio, com aluguel simbólico pago por doadores, já está sendo ocupado por 60 pessoas - a maioria homens - que chegou a Manaus na semana passada. Nenhum sabe falar português, embora um deles já tenha conseguido uma vaga no mercado de trabalho.
O prédio, mesmo com estrutura precária, é o refúgio destas pessoas que não teriam para onde ir. Uma delas é Charlemagne Laudia, 30, que chegou com o marido e o filho de um ano. "Vim para cá porque quero morar no Brasil", disse ela.
Alguns haitianos moradores do prédio relataram à reportagem que não descartam irem para outro Estado. "Gostaria de ir para São Paulo. Trabalhar", diz Leonel Thomas.
Doação
O edifício onde vivem as atuais famílias foi alugado por uma missionária coreana. O local, administrado por Chiron Helene, tem uma estrutura física insalubre, mas vem recebendo reparos de voluntários.
"A gente recebe apoio de doadores, de empresas, de missionários. Não temos assistência de governo", diz ela.
Indiferença
A presença de haitianos em Manaus tem mudado o perfil populacional da cidade, onde a maioria tem indígena e nordestina.
A ambigüidade no acolhimento dos haitianos no Amazonas, porém, é destacado pelo missionário Stélio Maciel. Ao mesmo tempo em que a presença dos haitianos nunca foi um incômodo, a indiferença também é sentida.
"Parece uma situação normal. Ninguém se importa. Mas também ninguém pergunta se eles estão precisando de alguma coisa, de alguma ajuda. Ninguém se pergunta quais as dificuldades, se eles têm um lugar para dormir, se precisam aprender a falar português", diz Maciel, que suspendeu outro projeto social que vinha desenvolvendo (atenção à dependentes químicos) para se dedicar totalmente ao apoio aos imigrantes haitianos.
Fonte:
Opinião
O Brasil precisa estar atento a esta situação, não é querer ser egoísta, mas como pode o governo, mesmo que de forma indireta influencie a vinda de haitianos ao Brasil, se nosso País ainda não é capaz de atender as necessidades básicas da população?
Não adianta querer vender por ai a imagem de um País “ bonzinho” que esta de portas abertas a todos. O dever dos nossos governantes e sanar as nossas carências. O que o Brasil pode fazer para ajudar a população do Haiti é, justamente com as demais nações, seria promover apoio financeiro para que aquele Pais possa se reconstruir, apoio com doações de medicamentos, alimentos etc.., para que a população deste País possa viver com dignidade na sua terra.
Acredito que a política de imigração brasileira precisa se atualizar, pois daqui apouco alem dos problemas seculares de nos brasileiros, ainda teremos que carrear a dos outros.
Por Uanderson
Ok! visitei seu blog, e muito bom!
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