Ao descobrir que estava grávida pela primeira vez, aos 34 anos, ela ficou radiante. Algumas semanas depois, ela sofreu um aborto espontâneo devido a uma complicação gestacional da qual ela nunca havia ouvido falar: uma gravidez molar.
Mas foi a notícia de que as células anormais que haviam ficado em seu útero haviam se transformado em um câncer agressivo que mudou drasticamente sua vida.
"É um choque absoluto. Ir da alegria de estar grávida para a tristeza do aborto e aí descobrir que você tem câncer é uma montanha-russa, a coisa mais difícil que já enfrentei", disse Charlotte à BBC Brasil.
'Complicação rara'
A gravidez molar acontece quando há um problema no momento da fertilização.
Em vez de receber 23 cromossomos do pai e 23 da mãe, em uma gestação molar completa o óvulo fertilizado não contém nenhum material genético da mãe e o do pai é duplicado. Neste caso, não há embrião, mas uma massa de cistos, chamada de mola hidatiforme.
No caso de Charlotte, uma gestação molar parcial, o óvulo fertilizado tem o conjunto normal de cromossomos da mãe, mas o dobro do pai, gerando um total de 69 cromossomos no lugar dos 46 normais. Isso pode acontecer quando os cromossomos do espermatozóide são duplicados ou quando dois espermatozóides fertilizam o mesmo óvulo.
O embrião pode começar a se desenvolver, mas não tem como sobreviver.
Não se sabe exatamente o que causa a gravidez molar, mas especialistas dizem que ela tem fundo imunológico e ocorre com maior frequência entre populações mais pobres.
Enquanto a incidência do problema em países desenvolvidos fica em torno de uma em mil gestações, no Estado do Rio de Janeiro estima-se que esse número chegue a uma em 200 gestações, segundo cálculos do médico Paulo Belfort, diretor do Centro de Neoplasia Trofoblástica Gestacional, nome científico da gravidez molar, na Santa Casa da Misericórdia.
Câncer
Mulheres com o problema inicialmente apresentam sintomas normais de gravidez.
A partir das seis semanas de gestação, no entanto, a mulher pode ter sangramentos e seus níveis do hormônio da gravidez - o hCG - ficam muito mais elevados que o normal.
Após o aborto espontâneo ou por curetagem, na grande maioria dos casos as células anormais desaparecem e os níveis de hCG voltam a zero.
Mas, na Grã-Bretanha, em 16% dos casos de mola hidatiforme e em 0,5% dos casos de molas parciais, o tecido anormal no útero se torna cancerígeno e pode se espalhar rapidamente pelo corpo.
No Brasil, não há estatísticas oficiais, mas segundo o especialista Paulo Belfort, esses índices estariam em torno de 23% e 5%, respectivamente, no Rio de Janeiro.
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