Desde o início da crise
na Síria, o Brasil vem concedendo asilo a mais refugiados sírios do que os
principais portos de destino de refugiados na Europa.
Segundo dados do Conare
(Comitê Nacional para os Refugiados), órgão ligado ao Ministério da Justiça,
2.077 sírios receberam asilo do governo brasileiro de 2011 até agosto deste
ano. Trata-se da nacionalidade com mais refugiados reconhecidos no Brasil, à
frente da angolana e da congolesa.
O número é superior ao
dos Estados Unidos (1.243) e ao de países no sul da Europa que recebem grandes
quantidades de imigrantes ilegais ─ não apenas sírios, mas também de todo o
Oriente Médio e da África ─ que atravessaram o Mediterrâneo em busca de
refúgio, como Grécia (1.275), Espanha (1.335), Itália (1.005) e Portugal (15).
Os dados da Eurostat, a agência de estatísticas da União Europeia, referem-se
ao total de sírios que receberam asilo, e não aos que solicitaram refúgio.
Nas últimas semanas, a
crise humanitária na Síria voltou a ganhar projeção na imprensa internacional,
com levas de refugiados abandonando o país em direção, principalmente, à
Europa. A imagem de um menino sírio morto em uma praia da Turquia virou símbolo
da tragédia.
Apesar da distância ─
10 mil quilômetros separam Brasil e Síria, o governo brasileiro vem mantendo
uma política diferente da de muitos países europeus em relação a refugiados
sírios.
Há cerca de dois anos,
o Conare publicou uma normativa facilitando a concessão de vistos a imigrantes
daquele país.
Desde então, muitos
sírios daquele país vem escolhendo o Brasil como destino para fugir de guerras,
perseguições e pobreza.
Segundo fontes ouvidas
pela BBC Brasil no Ministério das Relações Exteriores, o número de vistos
concedidos por mês a cidadãos sírios em apenas uma das embaixadas brasileiras
no Oriente Médio é hoje quatro vezes maior do que antes do início da crise, em
2011.
Naquele ano, grupos
rebeldes tentaram tomar o poder no país e entraram em confronto com forças de
segurança do presidente da Síria, Bashar Al-Assad.
Atualmente, a emissão
do documento está concentrada principalmente nas embaixadas brasileiras em
Beirute (Líbano), Amã (Jordânia) e Istambul (Turquia). A representação
diplomática em Damasco (Síria) foi fechada em 2012 por motivos de segurança.
"Antigamente,
emitíamos 20 vistos por mês. Hoje são 20 por semana. Mas já emitimos
mais", afirmou à BBC Brasil um diplomata que não quis se identificar.
"São pessoas com
todos os perfis socioeconômicos. Há desde camponeses a engenheiros e advogados,
muitos deles com pós-graduação. Em comum, todos estão fugindo de um país imerso
em uma espiral de violência", acrescentou.
O Brasil também é o
país que mais concedeu asilo a refugiados sírios na América Latina. No
continente americano, só perde para o Canadá ─ que recebeu 2.374 refugiados
entre janeiro de 2014 e janeiro deste ano.
Especificamente na
comparação com os vizinhos sul-americanos, contudo, o número de solicitações
concedidas pelo governo brasileiro é consideravelmente superior.
Desde 2011, por
exemplo, a Argentina concedeu refúgio a apenas 233 sírios. Já o Uruguai, a 117.
O Chile, por sua vez, recebeu 1.220 imigrantes.
Na outra ponta,
contudo, o Brasil recebeu menos do que Alemanha (65.075), Suécia (39.325),
Noruega (2.995), Bélgica (5.430), França (4.975) e Reino Unido (4.035), segundo
dados da Eurostat.
Nesta sexta-feira, em
resposta à pressão doméstica e internacional, o primeiro-ministro britânico,
David Cameron, afirmou que o Reino Unido vai oferecer asilo a "milhares de
refugiados sírios" devido à piora da crise humanitária. Ele não divulgou
estimativas, mas a Acnur (agência de refugiados da ONU) informou que o número
poderia chegar a 4 mil.
Em entrevista à BBC
Brasil, o representante da Acnur (Agência da ONU para Refugiados), Andrés
Ramirez, elogiou a iniciativa do governo brasileiro, que classificou como uma
"importante mensagem humanitária e de direitos humanos".
"O Brasil tem
mantido uma política de portas abertas para os refugiados sírios. O número
ainda é baixo, em muito devido à localização geográfica. Mas sem dúvida se
trata de um exemplo a ser seguido a nível mundial", afirmou ele.
Ramirez lembrou que no
Brasil, diferentemente de outros países, enquanto espera pela concessão do
asilo, o refugiado pode trabalhar e ter acesso à saúde e à educação.
Ele criticou,
entretanto, a demora no processamento de pedidos. Segundo ele, o Conare vem
tendo dificuldades para atender à demanda crescente das solicitações de asilo.
"Temos realizado
conversas com o governo no sentido de modernizar a estrutura do órgão, face à
nova realidade. Houve um aumento substancial no número de pedidos de asilo no
mundo. Com o Brasil não foi diferente. É necessário agilizar a dinâmica do
Conare, mas sem perder de vista a qualidade. Isso significa desde aumentar o
número de funcionários a melhorar a organização interna", explicou.
"Outro desafio é
integrar esse refugiado à sociedade brasileira, tanto social quanto econômica e
culturalmente", acrescentou.
Fonte: BBC Brasil
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