A situação dos
haitianos em 2014, quatro anos após o terremoto que devastou o país, pouco
mudou. Enquanto isso, a reconstrução do Haiti segue a passos lentos, e a
economia, que já era a mais pobre das Américas, sofreu um revés que jogou o
país ainda mais fundo na miséria e no abandono. Para fugir dessa situação, muitos
haitianos têm visto como única opção deixar o país.
O Norte do Brasil,
principalmente o Amazonas, continua recebendo todos os meses centenas de
imigrantes do país caribenho que chegam em busca de uma vida melhor.
Recentemente, a Venezuela tem sido uma nova porta de entrada dos refugiados
para o Amazonas, que agora trazem consigo famílias inteiras. Até então, a rota
mais comum dos haitianos era pela fronteira com a Colômbia, via Tabatinga (AM),
e com o Peru, via Brasiléia (AC). De Tabatinga, muitos seguem para Manaus, onde
há mais oportunidades de emprego.
Quem confirma o fato é
o padre Valdeci Molinari, responsável pela Paróquia de São Geraldo, na
Zona Centro-Sul de Manaus, principal abrigo dos imigrantes, afirmando que o
número de haitianos vindo morar no Estado também aumentou.
Num caso que que chamou
a atenção do Brasil nesta semana, o número de haitianos que chegaram ao país,
pela fronteira com o Peru, no estado do Acre, triplicou. Autoridades locais
cogitam fechar novos acessos, pela falta de condições de dar abrigo e
alimentação a tantas pessoas. Alojamentos com capacidade para 300 estariam
abrigando 1.200 pessoas.
No Amazonas, a
situação, se não chega a esse extremo, também preocupa, de acordo com o padre
Valdeci Molinari. Questionado por A CRÍTICA sobre a razão desse aumento, o
padre afirma que foi a situação econômica da Venezuela, país em que a maioria
desses imigrantes tentou se estabelecer, a principal responsável. “A
instabilidade, a falta de perspectivas, o medo, tudo isso fez com que muitos
desses haitianos desistissem de tentar a sorte na Venezuela e viessem pra cá”,
explica o pároco.
Trabalho pastoral
Envolvido diretamente
no acolhimento aos refugiados – a Paróquia de São Geraldo, em Manaus, concentra
a maior comunidade de haitianos da cidade –, Valdeci acredita que a situação
deles, em 2014, não melhorou na comparação com 2010 – na verdade, pode estar
até pior. “A entrada e a permanência de haitianos no Brasil é muito facilitada
pelo Governo Federal. O governo é uma mãe fantástica pra eles. O problema é que
são oferecidas todas as condições pra que eles entrem no país, mas não se dá
estrutura nenhuma pra recebê-los”, afirma.
A situação é ainda mais
grave pelo fato de que desta vez a maioria dos imigrantes são famílias, e não
homens solteiros. “Quando eram só homens, era mais simples: as empresas podiam
aproveitá-los nas obras, eles podiam se deslocar com mais facilidade para
outros estados. Famílias inteiras, principalmente mães com seus filhos, têm
muito mais dificuldade em se estabelecer, em encontrar boas condições de vida,
alem do quê, são pessoas que necessitam de mais cuidados”, desabafa.
Para atender a essa
demanda, a Paróquia conta com o apoio da população. “Praticamente 80% dos
alimentos consumidos pelos imigrantes chegam através de doação”, revela o
padre. “Colchões, lençóis, roupas, utensílios de limpeza e higiene, várias
outras coisas chegam graças à solidariedade das pessoas, mas, se o número de
imigrantes continuar aumentando, eu não sei como vamos fazer”, preocupa-se
Valdeci.
Segundo os registros da
Paróquia, em janeiro, 84 haitianos chegaram a Manaus. O número é inferior aos
meses anteriores, onde a média era entre 120 e 140 imigrantes. “A situação
começou a piorar em agosto do ano passado, que é quando começou a aumentar
muito o número de haitianos. Nesse mês, a situação melhorou um pouco. Mas as
notícias recentes não são animadoras, e, se continuar assim, podemos viver
outra situação de tensão como foi em 2010. A gente espera poder contar com o
apoio da prefeitura, do governo, pra que isso não se repita”, conclui.
Ainda segundo a
Paróquia, a estimativa é que cerca de 2.500 haitianos vivam em Manaus
atualmente. No ano passado, a capital recebeu cerca de 1.600 novos refugiados
do país.
Fonte: A Critica
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