A recessão do Brasil
deverá ser mais um revés para a economia da América Latina, já atingida com a
crise na Venezuela e o calote da Argentina.
O Produto Interno Bruto
(PIB) do país, maior economia da região, recuou 0,6% no último trimestre na
comparação com o trimestre anterior e 0,9% em relação ao mesmo período do ano
passado, segundo dados do IBGE divulgados na sexta-feira.
O órgão revisou para
baixo o resultado do primeiro trimestre - de crescimento de 0,2% para queda de
0,2%, o que colocou o país em "recessão técnica", quando há dois
trimestres seguidos de crescimento negativo.
O governo culpou a
realização da Copa do Mundo - responsável pela redução de dias úteis com o
decreto de feriados -, e a crise internacional como motivos da desaceleração,
mas analistas advertem para problemas estruturais que freiam o crescimento do
país, cujos efeitos são sentidos em toda a região.
"Isto afeta muito
a região porque o (Brasil) é o maior país da América Latina. Todos os países
que têm relações comerciais com o Brasil vão sofrer o impacto", disse
Margarida Gutierrez, professora de Macroeconomia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro.
Especialistas já
previam um retrocesso da economia no segundo trimestre, mas os números vieram
piores do que o estimado.
Entre os fatores que
puxaram o PIB para baixo estão a queda de 5,4% nos investimentos neste
trimestre e a redução de 1,5% na produção da indústria. Também houve uma queda
de 0,5% nos serviços e 0,7% nos gastos do governo.
O resultado já é
sentido: empresas que têm negócios com parceiros no Brasil já estão com
perspectivas de queda nas relações comerciais, disse Gustavo Segre, diretor do
Center Group, empresa de consultoria de negócios na América Latina, em Buenos
Aires.
A previsão, segundo
ele, é que as grandes indústrias da região com negócios no Brasil sofram um
impacto maior, mas que o país ainda é visto como atraente por muitas empresas
pelo seu tamanho e mercado consumidor.
O Brasil parece sentir
também os problemas econômicos nas vizinhas Argentina e Venezuela, dois grandes
parceiros regionais e integrantes do Mercosul.
As tensões parecem
estar se acirrando.
"Se as economias
que compram de nós não conseguirem reverter essa situação, dificilmente nossos
setores exportadores poderão ser competitivos", disse o ministro de
Economia argentino, Axel Kicillof, que se reuniu nesta semana com o ministro da
Fazenda, Guido Mantega.
Já Mantega queixou-se,
na sexta-feira, da queda das exportações de automóveis para a Argentina como
uma das razões do recuo do crescimento brasileiro.
Mantega negou que haja
recessão e disse que a queda do PIB foi pequena e não afetou o desempenho nem o
consumo. Ele previu uma recuperação para o segundo semestre.
No entanto, ele admitiu
que deverá haver uma revisão da previsão de crescimento para este ano, atualmente
de 1,8%. Economistas acreditam que a expansão do PIB deverá ser inferior a 1%.
Margarida, da UFRJ, diz
que a queda dos investimentos reflete uma desconfiança na economia e incertezas
sobre um possível reajuste em 2015 - há expectativa de aumento em preços de
combustíveis e energia -, e que a indústria perde competitividade com um real
forte e custos altos de produção.
Tal cenário tende a
atingir os fluxos comerciais na região, segundo ela. "Isto vai atrasar
investimentos e reduzir niveis de produção", disse.
O anúncio - a cinco
semanas das eleições - é também um golpe duro para campanha de reeleição da
presidente Dilma Rousseff (PT), e servirá de munição para seus principais
rivais - Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB).
"Esta recessão
mostra a exaustão de um modelo de crescimento centrado no consumo
interno", disse Eduardo Velho, economista-chefe da empresa de
investimentos INVX Global, em São Paulo.
"É um bom retrato
do que a economia está sofrendo - desaceleração da indústria, queda em
investimento", disse ele, argumentando que profundas reformas serão
necessárias, independente de quem for eleito em outubro.
Fonte: BBC Brasil
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