O advogado Marlon
Balbon Taborda, que representa a avó materna do menino Bernardo Uglione
Boldrini, 11 anos, morto no dia 4 de abril, alertou ao Conselho Tutelar de
Santa Maria, no dia 22 de novembro de 2013, e ao Ministério Público de Três
Passos, em 6 de dezembro do mesmo ano, sobre o risco de vida que corria o
menino.
Em troca de e-mails
obtida por Zero Hora, Taborda informa, baseado em denúncia feita por uma
babá que tinha relação íntima com Bernardo, que o garoto "estava
andando pela rua, abandonado, que foi tentado ser asfixiado em uma noite quando
estava em casa, fato confirmado pelo menino." Conforme o Ministério
Público, a denúncia é de 2012.
Em outro trecho do
documento, o advogado da família alertou: "A (babá) me expôs de forma
categórica no telefone que quem fez isso foi a atual esposa do pai do menino.
Disse também que a 'polícia bateu lá', e que o pai do Bernardo estaria
internado por motivos alheios. Em suma, a preocupação da avó é que o seu neto
esteja sem referencial de família, pois estaria abandonado pelo pai e com
estranhos", ressalta o defensor no documento.
Antes de procurar o
Ministério Público, Taborda enviou a mesma denúncia ao Conselho Tutelar de
Santa Maria. No documento encaminhado aos conselheiros, o advogado explica que,
diante das ameaças, o menino estaria com uma outra família, que o acolheu
diversas vezes.
O texto diz o seguinte:
"(A família) confirmou que o menino realmente está com ela, e que não tem
e nem quer ter notícia do pai do menino BERNARDO, de nome LEANDRO BOLDRINI. Que
o menino está sem pai e sem mãe. Deu a entender que algo grave aconteceu, mas
não disse e a avó não sabe o que... Assim sendo, o que se precisa é averiguar a
situação."
O conselheiro tutelar
Alexandre Almeida da Silva respondeu que "na época eu falei com o advogado
a respeito dessa denúncia, e a avó também nos procurou. Eles falavam sobre uma
possível situação de risco desse menino. Eu orientei o advogado da família a
mandar fazer a denúncia no local de domicílio da criança, como é a regra
geral. Dei a ele o telefone do Conselho Tutelar de Três Passos."
Os e-mails obtidos por
Zero Hora são entre novembro de 2013 e dezembro do mesmo ano. A última mensagem
encaminhada pelo Ministério Público de Três Passos convida o advogado e a avó
de Bernardo a irem até a cidade para esclarecer as denúncias. Taborda alegou
que ela era doente e não podia se deslocar, tendo que falar ao MP em Santa Maria,
cidade onde reside.
Procurada por Zero
Hora, a promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira confirmou a troca de e-mails.
Ela explicou que a avó do menino prestou depoimento em Santa Maria e que,
em seguida, o MP pediu à Justiça que a guarda de Bernardo fosse transferida
para ela:
– Eu entrei com pedido
de guarda para a cliente dele (do advogado) ficar com o Bernardo no dia 31 de
janeiro de 2014. Depois, o juiz optou por marcar as audiências com o pai e
o menino. Eu pedi a audiência com a avó junto. Fiz tudo que estava a meu
alcance.
Em janeiro, Bernardo
foi levado ao MP por um agente da rede de proteção. Negou sofrer maus-tratos
físicos e violência, mas disse que o pai era indiferente e que a madrasta
implicava com ele. No final de janeiro, a promotora ingressou com ação na
Justiça pedindo que a guarda provisória fosse dada para a avó materna, em Santa
Maria.
O juiz entendeu por
marcar uma audiência com o pai de Bernardo, que ocorreu no começo de fevereiro.
Durante a conversa, o pai admitiu falhas, disse que trabalhava demais e pediu
uma chance de reaproximação com o filho. Bernardo também aceitou: "vamos
tentar", disse na ocasião o menino.
Conforme a promotora,
foi estipulado um prazo para uma nova avaliação da situação. Desde então,
nenhuma informação sobre problemas na relação chegou ao MP. Dinamárcia destacou
que em toda a apuração não surgiu qualquer indício de que o menino corresse
perigo ou estivesse sofrendo violência.
Bernardo Uglione
Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três
Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico
cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade
de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugolini, 32 anos,
para comprar uma TV.
De volta a Três Passos,
o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no
domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou
a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com
fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.
Na noite de
segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de
Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio
Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.
Segundo a Polícia
Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4.
Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade.
No dia 14, foram presos
o médico Leandro Boldrini _ que tem uma clínica particular em Três Passos e
atua no hospital do município _, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada
como Edelvania Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo. O
casal aparentava uma vida dupla, segundo relatos de amigos e vizinhos.
Fonte: Zero Hora
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