Em matéria do jornal o
Globo do dia 10 de abril noticiou a ação do ministério publico do trabalho que
investiga um grupo de comerciantes chineses. Segundo a publicação eles são
acusados de aliciar pessoas na cidade de Guangzhou, na província de Guagdong, e
trazê-las para o Brasil, onde eram exploradas em regime de trabalho escravo.
Três inquéritos que
investigam a prática foram abertos desde 2013 e encaminhados à Justiça Federal
— um está concluído e dois se encontram em andamento. Peças processuais obtidas
pelo GLOBO mostram que chineses são convencidos a vir com propostas de salário
de R$ 2 mil, moradia e alimentação de graça. Mas, ao chegar, recebem a notícia
de que terão de trabalhar por pelo menos três anos sem receber pagamento em
pastelarias da cidade para cobrir as despesas das passagens aéreas.
A primeira denúncia
sobre exploração de trabalho escravo de chineses encaminhada à Justiça Federal
foi assinada pelo procurador Sérgio Luiz Pinel Dias e revela que a quadrilha
tem acesso a áreas privativas do Aeroporto Internacional Galeão-Tom Jobim.
Segundo o documento, há ‘‘atuação de extensa rede criminosa, certamente com
ramificações no aparelho estatal’’. A Polícia Federal, responsável pelo setor
de imigração, informou que não comenta investigações em andamento.
A mesma denúncia
ressalta que um intérprete do consulado chinês foi apontado por uma das vítimas
como conhecido de um dos comerciantes que integram o esquema. O funcionário
teria tentado convencê-la a não levar o caso à frente. Questionado sobre a
acusação, o consulado afirmou que não disponibiliza tradutores para depoimentos
à polícia ou à Justiça. ‘‘Cada vez que um tribunal ou uma procuradoria nos
encaminha uma solicitação formal pedindo um tradutor deste consulado,
respondemos que não temos e não sugerimos tradutores. Pessoas envolvidas nos
casos brasileiros têm de procurar, por sua conta, os tradutores’’, diz a nota
da representação diplomática.
O caso que deu início
às investigações é de 2013, quando o Ministério Público do Trabalho denunciou à
Justiça Federal o chinês Van Ruilonc, de 32 anos, dono de uma pastelaria em
Parada de Lucas. A vítima, que foi incluída em um programa de proteção,
informou que recebeu, em Guangdong, uma oferta para trabalhar em um restaurante
do Rio, onde receberia R$ 2 mil. Segundo ela, ao desembarcar na cidade, uma
pessoa a recebeu no Galeão-Tom Jobim na área de entrega de bagagens. De acordo
com a denúncia, um homem pegou seus documentos e, ‘‘superando as restrições de
imigração, promoveu-lhe a entrada em território nacional’’.
A vítima era
permanentemente vigiada e proibida de sair do local do trabalho. Exames de
corpo de delito comprovaram a existência de castigos físicos, como pauladas,
chibatadas e queimaduras com cigarros. Policiais encontraram a vítima, mantida
em cárcere privado, graças a uma informação do Disque-Denúncia (2253-1177). A
procuradora do Ministério Público do Trabalho Guadalupe Louro Couto, que
acompanhou o caso, disse que ela dava expediente todos os dias das 5h30m às
23h, não recebia salário e era agredida.
CÃES VIRARAM ‘RECHEIO’
DE SALGADOS
Em uma das pastelarias
visitadas por procuradores e fiscais do Ministério Público do Trabalho,
cachorros que haviam sido mortos a pauladas estavam congelados dentro de caixas
de isopor, nos fundos do estabelecimento. Segundo participantes da operação, a
carne dos animais, que eram guardados na lanchonete de Parada de Lucas, seria
utilizada na produção de pastéis e outros salgados.
De acordo com o
depoimento do dono do estabelecimento, que cumpre pena no Complexo do Gericinó,
o uso de carne de cães na produção de pastéis é uma prática comum nas
lanchonetes chinesas espalhadas pela cidade. Num primeiro momento, ele disse à
polícia que não tinha conhecimento de que era proibido o abate desses animais
no Brasil. Depois, admitiu que sabia se tratar de prática ilegal, tanto que
recolhia os cachorros nas ruas da Zona Norte.
Segundo a procuradora
Guadalupe Louro Couto, a descoberta causou angústia em toda equipe de
fiscalização.
— Já vi muita coisa
ruim, principalmente em trabalhos que realizei em fazendas do Mato Grosso. Mas
o que encontrei naquela pastelaria foi o pior de tudo. Para começar, havia uma
cela, como se fosse uma cadeia, com grades e cadeado, montada dentro da
lanchonete, onde o trabalhador ficava encarcerado. Além disso, ele convivia com
o cheiro dos cachorros mortos, que ficavam ao lado dele. Eu não aguentei.
Quando senti o cheiro, comecei a passar mal e pedi para sair do
estabelecimento. Ao abrimos as caixas de isopor, vimos os cachorros congelados.
Ficamos perplexos. Foram vários os crimes cometidos ali — afirmou a
procuradora.
Fonte: O Globo
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