Rio de Janeiro - Brasil

domingo, 8 de junho de 2014

Morte em frente a hospital no Rio põe ética médica na berlinda

Na tarde de segunda-feira (2), após passar mal dentro de um ônibus em frente ao Instituto Nacional de Cardiologia (INC), em Laranjeiras, Zona Sul do Rio, o fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, de 63 anos, morreu. O fotógrafo, vítima de um infarto, desmaiou dentro do coletivo e o motorista, avisado pelo cobrador, buscou auxílio no INC. Ao chegar ao local, que enfrenta greve de servidores federais, receberam a informação de que o hospital não possui emergência. O enterro do idoso foi feito no Cemitério São João Batista, em Botafogo, às 17h desta terça-feira

Os familiares do fotógrafo estariam acusando o INC de negligência. Segundo os parentes de Luiz Cláudio Marigo, o hospital teria se recusado a prestar atendimento à vítima. O motorista do ônibus onde o fotógrafo passava mal teria parado em frente ao hospital que é referência em doenças do coração no Rio de Janeiro, mas o INC teria informado que o atendimento ao idoso somente poderia ser realizado uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

De acordo com testemunhas do ocorrido, nenhum profissional da saúde do INC foi ao ônibus prestar socorro à vítima, apesar de o instituto ter sido comunicado do que estava acontecendo. O primeiro atendimento ao idoso teria sido feito por funcionários do Samu que estavam levando outro paciente para o INC. Uma tentativa de reanimação teria sido realizada, sem sucesso.

Para o cardiologista Luís Roberto Londres, que dirige a Clínica São Vicente e é mestre em Filosofia, os hospitais não estão desempenhando plenamente seus papéis. No caso do INC, o médico acredita que independentemente de qualquer coisa, a situação do paciente deveria ter sido tratada com mais cuidado. “Independentemente de ter ou não emergência, se uma pessoa chega ao hospital em um estado em que ela deveria ser vista, a obrigação absoluta seria ter atendido. Medicina é uma atividade social e humanística que tem em sua base fazer o bem a terceiros”, afirma.

O médico critica o que chama de ideia mercadológica que existe na prática da medicina hoje em dia. “Eu tenho horror à palavra mercado, porque eu só conheço dois outros mercados de seres humanos: a prostituição e a escravatura. Medicina é um segmento de saúde. Quando você pensa sempre em dinheiro ou negócios, você está pervertendo a nossa missão, que é a de atender seres humanos”, diz.

Luís Roberto Londres diz ainda que no passado, os grandes médicos adquiriam renome pelo serviço de pesquisa e ensino ou/e pela atividade beneficente, mas que hoje em dia isso está sendo corrompido. E lembra também da pesquisa realizada há poucos anos pelo Ministério de Saúde que avaliava o Rio como a pior capital do país em atendimento pelo Sistema Único de Saúde. No Índice de Desempenho do SUS (IDSUS), lançado em março de 2012, o Rio ficou com nota 4,33. O IDSUS 2012 levaram em conta dados sobre saúde básica, ambulatorial, hospitalar e de emergência repassados pelos municípios a organismos como o IBGE e o Ipea entre 2008 e 2010.

Fonte: JB


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